Entrevista com Adriana Lippi, da newsletter preamar
Nota do editor: Uma série de entrevistas com pessoas que mantêm newsletters presentes no diretório de newsletters brasileiras. Leia as outras entrevistas.
Qual é a sua newsletter?
Fale um pouco de você, Adriana.
Formada em Oceanografia, mestra interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Mar (Unifesp/IMAR). Durante a graduação comecei a programar (HTML/CSS), fui para o mundo dos CMS em PHP. A experiência com programação veio a me ajudar de monte na hora de tratar bases de dados imensas de climatologia de Oceano e Atmosfera pro meu TCC. Me meti no mundo do Terceiro Setor onde estou envolvida há 19 anos atuando no começo no movimento estudantil e, depois de 2011, direto no movimento socioambiental. Sou umas das co-fundadoras da Liga das Mulheres pelo Oceano, uma rede de mais de 2.500 mulheres envolvidas na pesquisa e conservação do Oceano. A atuação nessa rede me inspirou a pesquisar no mestrado sobre questões de gênero nas ciências do Mar.
Em 2020, na pandemia, quis levar minha experiência de educação ambiental ao formato de divulgação científica no falecido Twitter (que substitui pelo Bluesky), Instagram e YouTube, onde trato(tava) de temas como Oceano, clima, política ambiental e similares.
Sou taróloga desde 2001 e tento lidar com as contradições de ser uma pessoa tão interessada nas ciências duras quanto nas coisas místicas que escapam ao método científico. Mantenho um blog chamado Espraiada.
Como surgiu a ideia de lançar uma newsletter?
A junção da proposta de um blog com disparo dos posts para e-mail me encanta muito. Sou uma “millennial geriátrica” que prefere mil vezes a comunicação por e-mail. Depois de assinar algumas newsletters, quis me aproximar da proposta de escrever cartinhas para pessoas que se interessaram sobre os temas que transito e de transformar os fios do Twitter/Bluesky em textos mais estruturados e organizados.
Qual é o seu processo criativo para escrever uma nova edição?
Quis esse ano que qualquer planejamento fosse por água abaixo. Antes trabalhava muito a newsletter como um espaço mais lírico (talvez devesse voltar), com metáforas que misturavam Oceano e sentimentos. Hoje em dia, tenho pegado pautas e assuntos ambientais/climáticos, de ativismo ou filosóficas que ocupam minha mente por dias e transformo em post. Tenho a seção CliMística, onde falo de assuntos como espiritualidade e clima na tentativa de trabalhar questões como ecoansiedade e luto climático. Ela deveria ser uma seção mensal (trabalharia os tópicos seguindo o Sol em cada signo, mas já perdi esse barco), me toma um esforço extra para explicar como essa coisas podem se aproximar respeitando o apreço pela Ciência.
Sua newsletter tem uma assinatura paga ou gera dinheiro de alguma outra forma?
Não.
Pretende transformá-la em negócio/tentar fazer dinheiro com ela no futuro?
Não.
Por quê?
Não gostaria de associar a forma como eu me expresso a um ganho financeiro e trazer mais essa camada de preocupação para o meu processo criativo. Para mim, já é um grande esforço bancar de fazer minhas análises e contribuições (pois também ser mulher na internet cansa). Por enquanto, o trabalho mental e emocional de monetização não me anima.
O que você usa para escrever, editar e gerenciar sua newsletter?
Uso o Notion para gerenciar as pautas e boa parte das referências. A depender da necessidade de pesquisa acadêmica para o assunto, o Zotero vem junto para fazer os fichamentos e gerar a bibliografia (até gosto de uma ABNT nas referências de post). Um revisor de texto as vezes no google docs ou direto no Substack, onde hoje está minha newsletter. (Estou avaliando uma migração, fiz uma pesquisa de serviços e de deixei no meu blog um post comparando eles.)
Quem você mais admira e gostaria que respondesse essas perguntas?
- Uma Palavra, Aline Valek.
- Outra Cozinha, Carla Soares.
- Meio do Céu, Ísis Daou.
- Mercúrio em Peixe, Thiago Ambrósio Lage.
- Luas e Marés, Lis Vilas Boas.
Deixe um recado aos leitores do Manual do Usuário:
A gente mora num planeta que é mais Oceano que terra, mas ignoramos o quanto a nossa vida (humana também) depende desse imenso corpo d’água. Da mesma forma, nossa existência depende de um equilíbrio ecológico que escapa ao controle humano e que estamos interferindo de forma perigosa. Se quiser um espacinho pra refletir sobre a ecoansiedade, conhecer mais de Oceano, entender os desafios de se organizar para mudar o mundo, e até entender de astrologia e tarot, a preamar tá ai pra isso.
Obrigada ao
Manual do Usuário
, Ghedin e todos que ajudam a manter esse espaço muito valioso. Afinal, eu acho que a saída dessas crises vai precisar de boas comunidades como essa.
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