“Pix das mensagens”, ou um plano para destronar o WhatsApp no Brasil
RCS é o “SMS 2.0”, um sistema de mensagens com recursos avançados/modernos e atrelado às operadoras em vez da propriedade de uma empresa. O Android é compatível com o RCS há vários anos; a Apple, por pressão de órgãos reguladores mundo afora, só adotou o formato em 2024 e a conta-gotas, dependendo da boa vontade das operadoras de cada país.
Tudo indica que o iOS 26, que deve ser lançado em setembro ou outubro, liberará o RCS para o iPhone no Brasil. Pode ser uma janela de oportunidade.
No Órbita, o Edson perguntou se o RCS “vai pegar”. O questionamento é recorrente entre quem se incomoda com a onipresença e obrigatoriedade do WhatsApp (eu mesmo o fiz, em abril de 2024) e é sempre válido retomá-lo quando novas circunstâncias se apresentam.
Além da chegada do iPhone à festa, outro fato novo é o tarifaço estadunidense. Se houvesse interesse das operadoras.
Daria para aproveitar essa atmosfera para promover o RCS como “Pix das mensagens”, emprestando a aura vitoriosa do sistema de pagamentos instantâneos brasileiro para um serviço de mensagens aberto, que faria o contraponto a um fechado que roda na camada de aplicações (OTT, no jargão técnico) e está sob os desígnios de uma empresa estrangeira (a Meta, no caso). A comparação não seria exagerada, acho. O paralelo entre Pix e RCS é válido, ainda que parcialmente.
Isso, por óbvio, deveria vir acompanhado de isenção de custos para a troca de mensagens por RCS e SMS — que nesse arranjo funciona como um “fallback”, ou seja, uma saída para momentos em que o RCS fica indisponível. Ainda hoje temos vários planos que cobram ou limitam a quantidade de mensagens por SMS. Talvez seja caro mesmo, porque o SMS transita fora da internet. O RCS não tem esse problema.
Gratuidade, uma campanha pesada de marketing e, se os contratos permitirem, o fim do “zero rating” para o WhatsApp, e talvez tenhamos alguma chance de nos livrar da obrigatoriedade do WhatsApp. Isso, claro, se for do interesse das operadoras que atuam no Brasil.
Enquanto isso, tive uma ideia meio de doido: troquei a minha foto no WhatsApp por um aviso de que prefiro conversar pelo Signal — a segunda melhor coisa depois do RCS, ou melhor, se criptografia de ponta a ponta for imprescindível. Vai que atiço a curiosidade de alguém?
compartilharam esse teu link na comunidade r/Brasil e lendo os comentários tenho convicção que a maioria não faz ideia como RCS e outros mensageiros funcionam.
Do ponto de vista de seguranca nao faz sentido a troca. O RCS oferece criptografia em trânsito mas apenas para quem usa o Google Messages.
Como a criptografia não é de ponta a ponta, o provedor de serviços (Google) tem a capacidade de acessar o conteúdo das suas mensagens enquanto elas estão em seus servidores. Eles falam que não o fazem, mas a possibilidade técnica existe.
A implementação do Google é criptografada de ponta a ponta. Não é o ideal, porque conversas com um iPhone, por exemplo, ainda não o são, mas a e2ee no padrão RCS foi lançada em março e, espera-se, será implementada em breve por Apple e Google.
Acho que a única coisa nesse momento que poderia abalar o WhatsApp é o fim do zero rating. E tá na cara que as operadoras estão doidas pra cobrar pelo uso, mas tem receio do backlash, afinal é um benefício a que a população se acostumou.
A prática também poderia ser derrubada na Justiça ou pelo CADE, pois fere a neutralidade da rede e distorce a concorrência, mas não parece haver muita disposição nesse sentido (imagina ser o procurador ou concorrente que vai à Justiça pra que todo o país pague pelo WhatsApp).
Falando no CADE, considerando o domínio do WhatsApp no Brasil, a agência poderia exigir interoperabilidade com outros apps, como fez a UE.
O Cade decidiu, em 2017, que o zero rating não viola a neutralidade da rede.
O CADE decidiu pela legalidade do zero rating sob pressão da Anatel, que argumentou que o zero rating traria competitividade e inovação para o setor. Já parecia ridículo na época e é ainda mais hoje, conhecendo a situação 8 anos depois. Mas é o que está nos autos do processo.
Acho que um dos maiores motivos da soberania do WhatsApp é não só as pessoas não se preocuparem com privacidade. Mas sim as que se preocupam desdenharem qualquer oportunidade. O signal realmente tem poucas pessoas e as que indicamos as vezes usam ou não. Mas se todo mundo fica no não vou usar porque ninguém usa, será que já não haveria ao menos um aumento de pessoas utilizando? Jogar a toalha é outro grande problema.
Que coisa. Eu mesmo comentei na publicação do Ghedin no Órbita e não lembrava mais disso 😬
O WhatsApp tem vantagens para diversos públicos.
Se tu tem um negócio, tu podes oferecer produtos, vender e se relacionar com clientes.
Se tu só quer falar com alguém, não custa dinheiro, é rápido, fácil de usar e popular.
A parte técnica da questão já foi resolvida bem antes do WhatsApp. XMPP, por exemplo, é um protocolo com mais de 20 anos que permite comunicação instantânea pela internet, incluisive por voz, vídeo e troca arquivos.
É a parte comercial, econômica, que estava em aberto e o WhatsApp resolveu melhor do que as operadoras.
SMS e MMS sempre foi caro enquanto WhatsApp sempre foi barato. Até hoje é caro e difícil achar bons planos de operadora.
Não está claro pra mim como RCS chegar ao iOS mudaria o uso de WhatsApp e de que forma seria mais vantajoso para nós. Me parece só as operadoras tentando correr atrás do prejuízo e reinvendo a roda nesse processo.
De qualquer forma, fico contente de ver isso sendo discutido e torço para que WhatsApp deixe de ter a importância que têm.
O protocolo RCS também é americano, né? O Signal também é americano, certo?
Não sei, acho que é trocar seis por meia dúzia. Acho meio bobo também. Acho que vai ser difícil destronar o whatsapp por aqui, tá muito consolidado.
Eu gostaria que houvesse uma alternativa que fosse nacional. Mas, até isso acontecer, é necessário investimento em tecnologia, educação, pesquisa… Tudo que historicamente não teve o devido valor em nosso país.
Hm… Mas há uma diferença entre usar um software fechado americano, usar um software livre americano e usar um protocolo criado nos USA, não?
Um protocolo não seria mais aberto e descentralizado, e permitiria que outros softwares não americanos se aproveitassem dele?
Entendo o apelo da analogia de promover o RCS contra o whatsapp correlacionando o Pix vs Tarifaço mas o pix é nacional e o RCS (mesmo que o protocolo seja aberto) é americano, então é trocar 6 por meia dúzia ¯\(ツ)/¯
Apesar de não existir, não deveria ser uma solução brasileira digna desse título de “pix das mensagens”?
1 mês sem WhatsApp, troqueio-o pelo Signal e, apesar das pouquíssimas pessoas que decidiram me acompanhar, sigo firme e forte, inclusive me tornei doador mensal do Signal. Quanto ao RCS, qualquer alternativa que não seja o WhatsApp irá falhar em seu intento de substituí-lo
Não entendi direito o diferencial desse RCS. Ele é usado via internet ou o sinal da operadora? Ele não suporta áudios e figurinhas mesmo? Será que não teria como suportar?
Sei que a maioria dos comentários aqui são desesperançosos. A curto prazo eu também não tenho esperança. Mas em um cenário de alguns anos vejo que coisas legais podem acontecer siim. De talvez alguma alternativa mais aberta.
O RCS nasceu como promessa de substituir o SMS, mas na prática é um projeto fracassado. O RCS das operadoras é falho: não tem criptografia ponta a ponta e a experiência varia de acordo com cada empresa, pois trata-se do protocolo mais fragmentado que existe, já que cada operadora implementa de um jeito e algumas nem sequer suportam direito. Isso cria uma experiência irregular, enquanto WhatsApp, signal e Telegram funcionam de forma idêntica para todo mundo. Só o Google implementa algo decente, mas aí você cai nas mãos da big tech malvadona, demonizada por metade da internet.
Se o RCS estivesse plenamente estabelecido, tenha certeza que as operadoras iriam cobrar. E pagar para mandar mensagem em 2025 é um regresso de 25 anos.
Além disso, é um protocolo extremamente defasado, uma vez que WhatsApp, Telegram e Signal oferecem muito mais: chamadas de vídeo, grupos estáveis, stickers, bots, integrações e pagamentos. O RCS, por outro lado, depende da boa vontade de operadoras, do Google e até da Apple para funcionar.
Usar RCS hoje é como tentar vender DVD em 2025.
é muito difícil querer emplacar algo que é pior que a situação atual.
rcs não tem muita coisa que o whatsapp já tem.
e o whatsapp é grátis e todo mundo já usa.
o fato de roubar seus dados pouco importa pra 99% da população.
Eu sei que esse é um desejo de todos (meu também), mas acho que é tarde demais. O WhatsApp está muito bem estabelecido na cultura brasileira não apenas como um aplicativo de mensagens mas um aplicativo faz tudo. Pessoas fazem negócios pelo WhatsApp, agendam consultas, fazem compras, vendem, ligam pros parentes por áudio ou vídeo… É um “tudo em um” que atende bem 99,9% da população.
Acho que não existem meios de derrubar o monopólio do WhatsApp no Brasil, exceto se seu uso for proibido.
As vezes eu acho que o MdU (como um todo) se perde na bolha. Não que seja ruim discutir isso, mas, é factível que eu faça a minha mãe usar o Signal? Somo ficasm os grupos da escola que ela precisa estar (direção, supervisão, turmas)?
É factível que a gnt coinsiga esse mesmo grau de facilidade dentro do RCS? O uso do WhatsApp pela maioria das pessoas é muito mais profundo do que enviar mensagens, é criar comunidades e conexões. INfeliuzmente é um aplicativo fechado de uma das piores empresas do mundo; mas o WhatsApp, para ser suplantando, precisa perder o fator humano da solução. Como foi com Orkut -> Facebook. Ou ICQ -> MSN -> WhatsApp.
A mudança (migração) do WhatsApp para qualquer outro local (Signal, Matrix, RCS) é uma questão social e não tecnológica. Talvez a análise tenha que ser sob esse ponto. Ninguém foi forçado a sair do Facebook e transformar a rede num site fantasma, as pessoas apenas migraram as discussões de lá pro WhatsApp e pro Instagram porque fazia sentido social para elas.
Vc resumiu exatamente o que penso sobre o que escrevem aqui no mdu sobre os mensageiros.
Imagina eu tendo que convencer os meus amigos a instalarem o signal para conversarem comigo. E estou falando dos meus amigos de 35-40 anos.
Imagina a minha mãe.
A minha usa :)
Acho que essas pessoas próximas são as mais fáceis de converter. (Não que seja necessariamente fácil.)
Mas ai cabe muito do misto das culturas “individuais” (como a relação de familares e próximos) e “coletivas” (grupos de trabalho, política, associações, etc…)
Se tipo amanhã (mais uma vez) hovesse decisão judicial de bloquear o whatsapp por exemplo, seria o mesmo que ocorreu das outras vezes: alguma outra plataforma de mensagem que tiver popularidade entra – não sei como tá o Telegram hoje, mas já parte das pessoas tentaram alguma vez e pode migrar lá.
Signal noto que é usado mais por grupos visados. Talvez até mais policiais e justiça usam. Mas já ouvi falar que tem dedo da CIA nele. vai saber?
Com todo respeito Ghedin, mas esse é justamente o comportamento “perdido na bolha” do qual o Paulo está falando. Mesma coisa no último parágrafo, que destoa do restante do texto.
É tipo ser aquele vegano militante ou o crossfiteiro da turma, que tenta convencer os outros a aderir ao seu pensamento. Acaba que você é apenas visto como o “chato do rolê”, e quase ninguém pode (ou quer) fazer o mesmo, seja por não concordar, ou por não ser prático, não gostar, etc. Acaba meio que sendo uma propaganda negativa, na minha opinião.
Sobre sua mãe usar o Signal, bom, é aquele negócio, os pais normalmente fazem tudo pelos filhos, né? Realmente, pra algumas pessoas próximas, vai ser mais fácil.
Entendo a crítica, Diogo. O que não entendo é de que outra maneira se pode militar pela menor dependência das big techs. Tem sugestões? Pergunto na boa mesmo, porque meu maior desejo não é estar certo, mas avançar essa pauta.